Por: Amanda Borges
Uma das palestras mais concorridas da Bett Brasil Educar 2017, sem dúvida foi a do filósofo, professor e educador Mário Sergio Cortella, que aconteceu no dia 12 de maio sobre Educação, Convivência e Ética.
Cortella iniciou sua palestra gerando um momento de reflexão sobre os nossos atos cotidianos, falando sobre como o ser humano naturalmente se acostuma com algumas atitudes erradas do nosso dia a dia que refletem falta de educação, bem como com situações absurdas das quais nem mais nos damos conta. Alguns exemplos citados por ele são do número de mortes e assaltos que vemos todos os dias na TV e que não nos chocam, da poluição do rio Tietê, que há 50 anos atrás não era poluído e que, pouco a pouco, pelo costume de achar normal poluir, ficou como está hoje.
Em seguida, o palestrante fez uma reflexão sobre o conceito de ética, dando como exemplo a atitude comum que observa nos eventos em que participa, quando várias pessoas o interceptam ao final das palestras para tirar selfies, mesmo sabendo que ele se dirige para um local onde há uma fila de pessoas aguardando especialmente para este propósito, na qual terão seus livros assinados e um momento para fotos com o autor. Neste sentido, surge um questionamento sobre o que passa na cabeça de quem tem este tipo de atitude. Por que a pessoa acha que pode passar na frente dos outros e não respeitar a fila ou a regra imposta a todos? Especialmente, logo após assistir a uma palestra cujo tema principal gira em torno do conceito de ética.
Cortella, então, associou esse comportamento a uma frase que ouve muito nas escolas em que visita, relacionada a essa nova geração: “Esses alunos não querem saber de nada, eles são assim mesmo”. Esta frase muito tem a ver com comportamento citado acima, sobre como nos acomodamos com as coisas, como desistimos de lutar contra o que está errado. Mas o filósofo explicou para seus espectadores que esta atitude deve mudar, pois quem ama não desiste, quem ama um filho, uma profissão, não desiste. Os educadores devem ter esse amor pelo que fazem para que não se acomodem ou desistam.
Mais adiante, ele fez uma menção à música Trem das Onze, citando o trecho: “(…) minha mãe não dorme enquanto eu não chegar…”, e fazendo um paralelo entre o cuidado da mãe e o cuidado que os educadores devem ter com seus alunos, sendo sempre ativos e permanecendo em constante de alerta, como a mãe que não dorme enquanto o filho não chega.
Seguindo a linha de fazer associações com situações do cotidiano, o palestrante fez também um link de como a tecnologia tem impacto na formação das crianças e jovens de hoje, explicando que muitas vezes o que é prático não é certo, é apenas prático. Como exemplo, citou o aparelho de micro-ondas, que é bastante prático para o nosso dia a dia, mas cujo advento modificou o costume das famílias de esquentarem suas refeições e comerem juntas à mesa. Com a praticidade trazida pelo eletrodoméstico, esse costume foi ficando cada vez mais de lado, pois hoje cada integrante da família esquenta sua própria comida na hora em que quer, abrindo mão de um momento rico no qual um pai ou uma mãe conversavam com os filhos, passavam orientações, dentre outras trocas. Hoje, muitos filhos comem sós, vendo TV, ou utilizando o celular, o que gera um isolamento e uma falta de convivência, situação esta que acaba gerando crianças que não aprendem a conviver dentro de suas casas, terminando por passar para a escola a responsabilidade de ensinar esse importante aspecto do desenvolvimento social.
Ainda no tópico sobre a diminuição da convivência entre pais e filhos, Cortella citou o exemplo da disciplina, mencionando que muitas das crianças de hoje não têm convívio com seus pais devido à falta de tempo dos mesmos. Por este motivo, acabam sendo criadas por terceiros, como babás e domésticas, por exemplo. Neste caso, o relacionamento não obedece a hierarquia de pai para filho, mas sim o contrário, onde o filho é quem exerce o poder sobre a funcionária, fazendo com que essa criança não aceite cumprir ordens facilmente, o que está longe de ser um exemplo raro na sociedade.
No final da palestra, o professor explicou que o conceito de família deve estar associado a uma hierarquia e não a uma democracia, como muitos pensam. Segundo ele, é necessário que seja desta maneira para que os filhos adquiram valores e princípios. Isso não quer dizer que os filhos não possam fazer parte das decisões da família, mas devem ser apenas ouvidos, mas que a palavra final nunca deve ser a deles. Porém, o mais comum na sociedade moderna vermos que os filhos são quem decidem, entre outras coisas, onde a família vai passar as férias ou o que a família vai comer. Por este motivo, cabe a reflexão sobre como hierarquia é importante para que os filhos percebam que eles não estão no controle.
O palestrante finalizou frisando que tempo, ou a falta dele, é uma questão de prioridade, e que ética é passada através de exemplos. Unindo estas duas verdades, fez sua pontuação final de que é imprescindível ter tempo para a convivência, convivência esta que permitirá a transmissão de valores e princípios, como a ética.
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