“A relação com o aluno precisa ser readequada. Paulo Freire dizia: ‘enquanto eu luto, sou movido pela esperança. Se eu lutar com esperança, posso superar’. Então, pensamento positivo sempre. Sabemos do momento difícil, mas acreditamos que com boas práticas passaremos por isso tudo”, enfatiza o gerente-executivo do Sistema GGE de Ensino, Leonardo Siqueira, durante a primeira live do Edu 5.0 Live Meeting, promovida para discutir práticas que podem auxiliar as escolas a lidar com a inadimplência.
Já no início da live, os palestrantes enfatizaram que é preciso ter em mente, antes de tudo, que o gestor necessita ter domínio do seu negócio. Isso inclui ter uma boa relação com todos os elementos educacionais.
“O gestor precisa conhecer muito bem quais os custos, despesas e como pode realocar cada um desses itens quando ele passar por uma necessidade como passamos agora”, pontua a consultora e pesquisadora da FGV, Kheitt Vale.
Segundo a especialista, quando o responsável procura a instituição para matricular o aluno, ele não faz isso por um item só. Ele busca um conjunto de elementos que faz parte do processo de ensino-aprendizagem.
“No momento de isolamento social como este, a escola precisa de novos laços. Porque na relação estabelecida por um contrato de prestação de serviços, o responsável não vai conseguir entender que somente a aula online é suficiente. Então, a escola tem que inovar para trabalhar essas expectativas”, diz.
A reestruturação dos recursos é um dos pontos apresentados por Kheitt Vale como essenciais.
Isso inclui a realocação de funções.
“Uma recepcionista pode atuar no atendimento à família. É uma forma de mostrar o cuidado”, exemplifica. Outro ponto é que o gestor deve ter um apreço maior neste período no que diz respeito à transparência. “Tem que deixar claro o que está acontecendo com a questão dos custos. Antes da pandemia, a escola tinha diferenciais estruturais, mas, no momento das aulas online todos se tornam iguais. Então, é o tempo da inovação e da transparência”, enfatiza.
Profa. Kheitt Vale
Prof. Rodrigo Lamas
Falando em planejamento e reestruturação de recursos, o coordenador-executivo de graduação tecnológica da FGV, Rodrigo Lamas, destacou na live do Sistema GGE de Ensino, que diante do isolamento social e de uma apresentação de um novo formato de aula, o momento da negociação é muito importante e os casos precisam ser tratados de forma individual.
“Gestores têm que entender que contratos são firmados de forma individual. Quando se dá um desconto coletivo não está se respeitando essa individualidade. A escola pode cair em uma armadilha de dar um desconto para uma família que não estava precisando. Às vezes, o que se precisa é muito mais uma conversa do que um desconto”, alerta.
Ainda sobre o cenário de negociações, Rodrigo Lamas sugere que já a partir de agora sejam tratadas questões referentes à matrícula do próximo ano letivo.
“Porque, matematicamente, estamos trocando a certeza de não receber os 30% hoje pela possibilidade de não receber nada no ano que vem. Então, é preciso mostrar o trabalho diferenciado que está sendo feito e já tratar sobre o ano letivo de 2021. É uma forma, inclusive, de se garantir lastro, para que, caso seja necessário ir ao banco pedir um empréstimo, ter garantias”, orienta.
Neste momento, o advogado e professor universitário de direito civil da UGB e UNIFAA, Jean Pierri (foto), também deu a sua contribuição na live e, corroborando com a ideia de que é preciso desde já tratar sobre o próximo ano letivo, afirmou que, às vezes, é melhor deixar de ganhar 30% por um período, mas, já deixar um contrato amarrado para o ano seguinte.
“Dessa forma, a escola tem uma previsibilidade da receita do próximo ano letivo e o pai percebe que a há interesse em ter o aluno, porque ele é importante para instituição de ensino. Por isso, é imprescindível a conversa, levar em consideração o histórico do aluno, a análise do caso a caso”, ressalta.
Prof. Jean Pierri
Na conversa, Jean Pierri, também faz o alerta de que a escola precisa ainda se resguardar com relação aos cancelamentos que estão acontecendo diante deste momento de isolamento social.
“Nestes casos, se o aluno desejar voltar quando as aulas presenciais forem retomadas, ele pode. Porém, ele não pode participar da reposição de aula, nem exigir material que foi entregue. São itens que ele não tem direito e, para ter acesso, precisará pagar”, pontua. Neste ponto, a consultora Keith Vale acrescenta que, principalmente na Educação Infantil, onde a maior parte dos cancelamentos tem acontecido, a escola precisa reforçar a relação de transparência. “Tem que desenvolver cartilhas, ter um atendimento aos pais e dar ênfase da importância do estímulo e de como será a abordagem”, orienta.
Por fim, para os que acompanharam toda a live e que, a partir de agora, começam a pensar na matrícula em 2021, Rodrigo Lamas, alerta que será preciso considerar dois cenários: um com confinamento e outro sem confinamento.
“Isso que vai dar a régua de até onde ele pode ir e até onde não pode. Melhor investir agora em uma assessoria jurídica para reformular o contrato do próximo ano”, enfatiza. Outra orientação é não envolver funcionários que nunca trabalharam na área de matrículas neste processo. “A negociação terá que ser algo menos rígido e mais sensível à situação que estamos passando. Então, deve que envolver funcionários experientes”, finaliza.
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