A professora doutora Maria da Graça Moreira da Silva (foto), docente do Programa de Pós Graduação da USP, começou o debate afirmando que o futuro está aqui e agora.
“Uma questão simples e básica é: a leitura deste mundo de hoje não pode ser feita com os mesmos instrumentos que tínhamos no passado. Isso significa que vamos ter um novo olhar e usar esses novos instrumentos para conseguir ler este mundo, digital e contemporâneo”, provocou.
Como exemplo, Maria da Graça citou as aulas de biologia, onde, antes, o coração era apresentado por uma imagem com setas indicando o que representava cada parte do órgão. Hoje, com novas linguagens e tecnologias, a apresentação pode ser realizada de forma tridimensional, com formatos e movimentos mais próximos da realidade.
“É claro que as tecnologias são ferramentas para a gente interagir neste novo mundo, na nova ferramenta digital. Todos têm que entender desta cultura e isto é o mais desafiador. Nessas novas culturas, os nossos alunos já têm outra educação, um outro olhar. Eles já um têm sistema midiático. Uma outra forma de enxergar o mundo”, ressalta.
Para entender esse novo mundo, que está inserido na chamada web 5.0, a professora realizou uma espécie de volta ao passado, explicando todos os movimentos que antecederam esta realidade que vivemos hoje. Assim, na Web 1.0, o primeiro momento da internet, a figura mais apropriada para representá-la são os barcos. “Navegar pelo mar das informações. Se conectar e estar na superfície navegando”, diz a professora Maria da Graça, completando que isso é importante porque foi neste momento que tínhamos o computador e a interação com o aluno era realizada por meio de softwares educacionais, muita pesquisa em dicionários, enciclopédias e apresentações em Power Point. “A linguagem era representada por uma tartaruga que respondia aos comandos”, lembra.
Na Web 2.0, nada mudou bruscamente, mas, sim, a forma como as pessoas foram aprendendo a usá-la.
“A partir daí, surgem novas ideias. Então, de uma web onde todo mundo baixava, passamos a uma web mais social, porque passamos a ter imersão em autoria e compartilhamento. Daí surgem as selfies, implantação de laboratórios, e-mails, projetos de pesquisa e a grande novidade: os blogs”, conta a professora destacando que, a partir desse momento, as pessoas passaram de navegadores a autores.
A sequência do movimento, a Web 3.0, passa a ser mais cognitiva.
“É o momento em que aquela autoria passa a ser mais concreta. Passa a ser trabalhada a robótica, as tecnologias e os ambientes imersivos, onde se trabalha em grupo e buscando soluções”, explica.
De acordo com a professora Maria da Graça, ao chegar na Web 4.0, que passou a ser chamada de web simbiótica, já se tem um uso tecnológico e o desenvolvimento da Web de forma diferente. A partir daí, se começa a se falar sobre a interação de humanos e computadores.
“Essa etapa vem, então, nessa conexão entre o homem e a máquina. Já tem sistemas que aprendem, desenvolvem atividades, realidade virtual, realidade aumentada e uma comunicação que se adapta ao contexto. Já tem uma relação da tecnologia e das pessoas. Na educação, já temos algo bastante voltado para grupos e pequenos grupos, desenvolvimento das competências socioemocionais e também desenvolvimento da educação personalizada. Os sistemas começam a entender onde a pessoa está inserida. Então, este é um momento interessante de empatia. Podemos planejar em conjunto e propor uma ação que possa chegar ao final em um período curto de tempo. A ideia é que alunos façam, participem, discuta, conheçam e aprendam. Na escola, passamos a ter mais dois componentes: explorar e criar”, detalha.
Por fim, se conseguiu chegar à Web 5.0, justamente o que estamos começando a trabalhar agora. Diante da pandemia, a tecnologia começou a ser utilizada de forma mais saudável, produtiva e criando situações e produções tecnológicas que sirvam para transformar a realidade de algumas pessoas e algumas comunidades.
Para isso entra em cena o chamado protagonismo social.
“Estamos no momento de pensar em todos. Pensar em comunidade. Também começamos a diminuir a separação entre homem e tecnologia. É um trabalho mais focado e integrado em pessoas. A ideia é ter uma relação com a realidade, com atividades que tenham o envolvimento com as pessoas. Essa é uma grande mudança que a gente vai ter de agora pra frente. Já existem escolas, inclusive, que não têm um local fixo. A cada período eles estão em ambientes diferentes”, relata.
Seguindo as explanações, a professora e coordenadora da FGV, Tatiana Soster (foto), tratou de elementos que surgiram no momento de pandemia como uma antecipação da educação 5.0, entre eles, a importância da tecnologia na educação e de termos uma educação centrada no ser humano. “A sociedade 5.0 já resolveu muitos problemas com os aparatos tecnológicos. Se a escola já forma alunos para uma sociedade baseada em tecnologia e centrada no ser humano, já faz parte disso. Somos uma grande sociedade em contexto global”, enfatiza.
De acordo com Tatiana Soster, se a escola ainda não está inserida neste contexto, primeiro é preciso ter um diagnóstico olhando as perspectivas da sociedade 5.0, que é baseada em tecnologia e centrada no ser humano. “Uma vez que eu vi onde eu estou baseada neste contexto, eu vou fazer um planejamento traçando onde estou e para onde quero chegar. Se eu quero um aluno protagonista, eu preciso garantir que meu professor, meu gestor também sejam. É uma cadeia”, orienta, destacando que é importante analisar todos os atores que fazem parte deste contexto: gestores, pedagogos, professores, administrativo, alunos, pais e para a comunidade. “Hoje está evidente a necessidade de trabalhar em parceria com quem está em contato com os alunos”, diz.
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